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22/12/2020 01:12
Nota de pesar
O GT de Estudos de Gênero da ANPUH/Bahia, através desta nota de pesar, se solidariza com familiares, amigos e amigas da estilista Tatiana Fonseca, brutalmente assassinada em um crime de feminicídio na manhã de 10 de dezembro de 2020, em Salvador/Bahia. Nossos sentimentos se estendem ao primo e amigo desta, nosso companheiro e um dos coordenadores deste GT, professor Kleber Simões.
Estamos ainda muito consternadas com a notícia de mais um feminicídio, especialmente considerando que o então ex-namorado, assassino da vítima, era reincidente em crimes contra mulheres e já teria sido denunciado e preso em função destes crimes cometidos anteriormente. Casos de reincidência ainda são comuns quando se trata do crime de feminicídio, já que muitas vezes as denúncias de maus tratos das vítimas são desacreditadas ou a violência doméstica é minimizada até a ocorrência do assassinato. O assassino de Tatiana Fonseca ficou um bom tempo foragido após ter sequestrado, algemado e amordaçado uma ex-namorada em 2011.
Entendemos que o Estado e os órgãos competentes ainda exercem um papel de extrema tolerância para com os crimes contra as mulheres, reproduzindo o machismo estrutural que marca a sociedade brasileira. A tolerância institucional às violências contra às mulheres pode ocorrer tanto por atitudes e práticas preconceituosas, racistas, machistas, sexistas, quanto pela omissão do Estado e seus aparelhos em garantir a segurança das vítimas e o devido cumprimento da lei.
É importante registrar que, somente no primeiro semestre de 2020, de acordo com o monitor da violência, foram cometidos 57 crimes de feminicídio na Bahia, sendo que houve um aumento destes casos em comparação com o mesmo período de 2019 (48). A Bahia foi o terceiro estado que mais registrou casos de feminicídio para o período, ficando atrás apenas de São Paulo (88) e Minas Gerais (61)1 . Apesar deste alto quantitativo, sabemos que estes números não contemplam crimes não registrados e nem solucionados pelos órgãos competentes.
A vítima, Tatiana Fonseca, era perseguida pelo ex-namorado, reincidente em crimes contra mulheres, a ponto de ter que mudar de residência para que o mesmo a deixasse em paz. Perguntamos aos poderes públicos competentes, até quando teremos que esperar um tratamento mais adequado e realmente incisivo contra as diversas violências domésticas que são cotidianamente registradas nas DEAMs? Até quando as vítimas terão que viver fugindo dos seus algozes por não ter assistência adequada aos seus casos?
Tatiana foi sepultada no dia 11 de dezembro de 2020, na cidade de Rio Real. É mais uma vítima do machismo estrutural que persegue milhares de mulheres no mundo inteiro, mas não é e não será só mais um número. Nossos mais sinceros sentimentos a todas as pessoas que a conheciam. Nós, do GT de Estudos de Gênero da ANPUH/Bahia, permaneceremos denunciando cotidianamente os diversos tipos de violências, para que crimes como este possam ser interceptados pelo Estado e seus aparelhos competentes, antes de ocorrerem, com o adequado tratamento dado para denúncias de violências contra as mulheres.
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1 Informações disponíveis em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/09/16/monitor-daviolencia-bahia-registra-aumento-no-numero-de-casos-de-feminicidios-em-relacao-ao-primeirosemestre-de-2019.ghtml. Acesso: 12 de dez 2020.

